15 maio 2011

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Benefícios da Musicoterapia na Terceira Idade
 por Elisandra Vilella G. Sé

A música é capaz de ativar no cérebro os mesmos centros de recompensa que uma comida saborosa, droga ou sexo e reduz as concentrações dos hormônios do estresse"A musicoterapia é uma especialização científica que se ocupa do trabalho clínico e do estudo dos elementos do som e da música para fins educacionais e terapêuticos. A musicoterapia auxilia a abrir canais de comunicação para produzir efeitos terápicos com estímulos sonoros com o objetivo de treinar e recuperar o paciente.
Do ponto de vista histórico, sabemos que a música tem a capacidade de transcender o tempo, a música vai além dos séculos e décadas, existe em diferentes culturas e gerações dando sentido aos movimentos, fatos vivências e épocas. A música também marca um tempo histórico, sóciocultural, permanece numa memória coletivae étnica. E as músicas das nossas vidas também fazem parte dessa construção.

Os efeitos benéficos da música e seus elementos na saúde física e mental foram descobertos há mais de dois mil anos atrás. O reconhecimento de que a música poderia estimular o corpo humano, influenciar no batimento cardíaco, no sistema imunológico, no sistema endócrino, nos órgãos dos sentidos, na resposta motora, comportamentos e emoções, levou seu uso para a prevenção e o tratamento de doenças físicas e mentais.

Mas a musicoterapia não se utiliza somente de música no processo de aplicação terapêutica, utiliza também o som num aspecto mais amplo em relação à sua concepção e movimento. Podem-se obter respostas motoras, sensitivas, orgânicas de comunicação através da música, da voz, do canto, de sons de instrumentos, dos gestos e dos sons do próprio corpo.

A musicoterapia na terceira idade se apresenta como uma terapia autoexpressiva de grande atuação em diferentes contextos e diversas enfermidades, tanto no aspecto preventivo social, como na reabilitação. A música atua como intermediadora na relação terapeuta-cliente, visando à melhoria da qualidade de vida, estimulando as ações físicas, sensório/perceptivas, psicológicas e sociais do indivíduo.

Tendo o corpo como primeiro instrumento musical. A utilização da música e seus elementos (som, ritmo, melodia e harmonia) pelo musicoterapeuta em um processo estruturado, ajuda promover a comunicação, o relacionamento, a aprendizagem, a mobilização, a expressão e a organização (física, emocional, mental, social e cognitiva) do índivíduo. Isso ajuda a desenvolver potenciais e/ou recuperar funções do indivíduo de forma que a pessoa possa alcançar melhor integração intra e interpessoal, bem-estar e melhor qualidade de vida.

As investigações sobre os efeitos biológicos do som e da música no ser humano mostram que:

a) Conforme o ritmo, aumenta ou diminui a energia muscular;

b) Acelera a respiração ou altera sua regularidade;

c) Produz efeito marcado, porém variável na pulsação, na pressão sanguínea;

d) Diminui o impacto dos estímulos sensoriais de diferentes modos;

e) Reduz ou retarda a fadiga;

f) Aumenta a atividade voluntária (atividades que temos controle: psicomotoras);

g) Provoca mudanças nos traçados elétricos do organismo;

h) Provoca mudanças no metabolismo e na biossíntese de vários processos enzimáticos.

A respeito dos efeitos na música na estimulação cerebral, a musicoterapia é bastante útil para desenvolver a inteligência e para estimular funções cognitivas e na manutenção das capacidades de memória, percepção, atenção, concentração e linguagem.

Existem regiões no cérebro do ser humano compostas por células especializadas destinadas a memorizar somente sons com determinados ritmos, outras, são destinadas a memorizar diferentes timbres de som, ou então células que têm a função de armazenar somente a linha melódica de uma música e o conjunto desses grupos celulares, compõe a memória sonora.

O reconhecimento da música, portanto sua identificação, ou seja, sua percepção, constitui uma função cognitiva. O aprendizado da música ou de um instrumento musical ajuda no desenvolvimento cognitivo, sobretudo nos aspectos semânticos e nos sistemas de memória. A música se configura numa forma de linguagem e pensamento, na atividade musicoterapêutica a música auxilia a manutenção da memória, da concentração, facilita a percepção auditiva, a atenção, a repetição, estimula a memória imediata, a *memória implícita, o raciocínio abstrato, a imaginação e a criatividade.

Existem regiões no cérebro do ser humano compostas por células especializadas, destinadas a memorizar somente sons com determinados ritmos, outras, são destinadas a memorizar diferentes timbres de som, ou então, células que têm a função de armazenar somente a linha melódica de uma música e o conjunto desses grupos de células compõe a memória sonora.

A área cerebral responsável pelo reconhecimento da música que ouvimos é a região ou córtex temporal do hemisfério direito do cérebro, assim como a execução das melodias e da prosódica musical.

Melodia é a sucessão rítmica, ascendente (indo para o agudo) ou descendente de sons (indo para o grave), a intervalos diferentes (duas notas diferentes) que encerram o sentido musical, processada na região do lobo temporal e frontal. A prosódia é o compasso das palavras que se ajusta aos acordes musicais numa composição ou no canto. Também é função do córtex temporal direito executar a música cantando-a.

No hemisfério esquerdo estão os centros da linguagem, que nos possibilitam a compreender a música. O córtex temporal do hemisfério esquerdo é indispensável para a composição e escrita da música. A música e a linguagem atuam em conjunto, ambas transmitem mensagens por meio de um sistema de signos que possui suas regras gramaticais.

Música interfere no comportamento humano e nas emoções

A música seja ela de qual gênero for, é uma inseparável companheira dos sentimentos, e sendo a emoção uma das características mais marcantes da pessoa, sempre onde existir pessoas, haverá lugar para a música.

Outros estudos mostram que a música exerce grande influência sobre o comportamento e as emoções e têm grande influência em regiões do cérebro importantes para as emoções.

Com relação aos estudos sobre os efeitos da música nas emoções e no comportamento ela é utilizada para:

- melhorar o humor, o sono, a motivação, a autoconfiança;

- diminuir a ansiedade;

- combate a tensão e a fadiga e eliminar o estresse.

Isso porque a música é capaz de ativar no cérebro os mesmos centros de recompensa que uma comida saborosa, droga ou sexo e reduz as concentrações dos hormônios do estresse.

É importante lembrar que os estímulos musicais interferem de forma única em cada ser humano, embora a música seja uma linguagem universal.
* Memória ímplicita divide-se em duas: semântica: para vocabulários; declarativa para narrativas, relatos de experiências, episódios.

"Através da música podemos induzir pensamentos positivos e criar situações que nos causem bem-estar ou estresse. A música é um ingrediente psicológico de grande força no desencadeamento de emoções. E essas influenciam o sistema imunológico"Com o envelhecimento populacional e o avanço de pesquisas na área da gerontologia, várias modalidades de tratamento foram surgindo como complemento para o tratamento médico convencional junto à pessoa idosa. Hoje sabemos que a abordagem não farmacológica no tratamento de pessoas idosas é bastante difundido e eficaz para diversos casos. E muitas vezes essas outras formas de tratamento são indicadas como a principal terapia.
A musicoterapia é uma dessas formas de tratamento, que por meio de atividades sonoro-musicais estimulam a criatividade, a capacidade física, mental e sóciocognitiva, seja em grupo ou individual. O tratamento musicoterápico auxilia diretamente no resgate da identidade sonora do paciente. A utilização da música e seus elementos constitutivos (harmonia, melodia, ritmo) implicam em musicoterapia, portanto um canal de comunicação que se estabelece entre paciente e terapeuta. Em momentos de grande dificuldade de expressão verbal é através da música que comunicamos nossos pensamentos e emoções.

Na terceira idade, a musicoterapia vem se revelando uma importante modalidade de reabilitação para os processos da memória e da linguagem, ajudando a elaborar conteúdos verbais, a estruturar e reformular seus conhecimentos, ajudando a manter preservadas suas funções cognitivas, como nos tratamentos para a doença de Alzheimer, a doença de Parkinson, e em pessoas com sequelas de AVC (acidente vascular cerebral) e nos casos de depressão para a elevação da autoestima, autoconfiança e socialização entre os idosos.

A pessoa ao ser estimulada musicalmente, dará inicio a um processo de compreensão de seus sentimentos e emoções. A música é então o elo, a ponte por onde o indivíduo se renova, se reestrutura, se reformula e se recicla.

A música tem uma força enorme sobre nosso organismo. O nosso corpo obedece comandos do cérebro e, sendo a música uma integrante dos pensamentos, pode interferir no organismo. Ao penetrar na mente de uma pessoa as frequências desencadeiam mecanismos cerebrais capazes de projetar a nível consciente, imagens, recordações, histórias vividas, ouvidas, sensações táteis, gustativas, olfativas... Enfim, traz à tona a bagagem de informações armazenadas na memória e que foi registrada juntamente com uma frequência sonora musical do passado.

É interessante observar que apenas uma nota musical, ou um som do ambiente pode representar para nós a identificação de uma situação, podemos reconhecer através de somente uma tonalidade o disparo de um rojão, um canto de um pássaro, uma risada, o som do sino da igreja, uma buzina, isso ocorre pela caracterização que aquela frequência representa a nível mental.

Abordagens musicoterápicas na terceira idade

Musicoterapia preventivo-social no atendimento às pessoas idosas
É recomendado a musicoterapia individual e/ou em grupo para vários tipos de tratamento junto à pessoa idosa no sentido de prevenir doenças como no caso da depressão e estimular a socialização entre outros aspectos. A musicoterapia, por exemplo, em sala de espera de hospitais e clínicas atua como um suporte preventivo-social, visa estabelecer vínculos entre os pacientes, compartilhar experiências e estimular a memória episódica através de um resgate musical e socializá-los.

A participação de idosos em canto coral também é uma modalidade importante de atividade com música e trabalha memória, disciplina e socialização de forma prazerosa.

A atividade de compor, bem como o aprendizado de um instrumento musical são outros tipos de atividades que elevam a autoestima do idoso, a manutenção da mente ativa, estimulando canais sensoriais, o ritmo, a memória, capacidade motora, criatividade entre outras funções cognitivas. A composição musical é acompanhada do estado emocional do indivíduo. Ela é produto exteriorizado da criação mental, realizada com subsídios da memória e da imaginação. A emoção para compor uma música pode surgir de um fato, vivência, lembrança ou imagem vista na rua. Esse estado emocional alimenta a criatividade.

Musicoterapia no processo de reabilitação de idosos

Musicoterapia na doença de Alzheimer
A doença de Alzheimer afeta primeiramente os circuitos da memória, a linguagem e o raciocínio abstrato. As falhas ocorrem primeiro na memória recente e de aprendizado enquanto a memória de longo prazo, a memória remota fica mais preservada no início da doença e vai se perdendo com a progressão da doença.

A musicoterapia com pacientes com a doença de Alzheimer pode ser eficaz para estimular os sistemas de memória. É preciso que faça um planejamento das atividades musicoterápicas para trabalhar com o paciente. A programação das atividades deve levar em conta o grau de comprometimento cognitivo, o grau de recordação musical, o conhecimento musical, as reservas cognitivas que o paciente apresenta. O importante é que o paciente continue sendo estimulado mesmo depois do diagnóstico. As atividades em grupo que proporcionam a interação social e o compartilhar de resgates musicais são importantes. O musicoterapeuta deve estar atento ao estado de comprometimento demencial do paciente, ao estado emocional e suas preferências musicais.

Musicoterapia e depressão
Através da música podemos induzir pensamentos positivos e criar situações que nos causem bem-estar ou estresse. A música é um ingrediente psicológico de grande força no desencadeamento de emoções.

A música gera emoções, as quais influenciam o sistema imunológico. As emoções e o sistema imunológico estão intimamente ligados e dependentes um do outro, por exemplo, se uma pessoa estiver emocionalmente vulnerável, fragilizada ou deprimida, ou escutando uma música triste que traz recordações infelizes, seu sistema imunológico também será afetado, provocando uma baixa concentração de anticorpos no organismo e por sua vez criará uma predisposição para o desenvolvimento de doenças.

O sistema imunológico é influenciado em sua produção pelo estado psicológico e sendo a música uma linguagem que se comunica com as emoções, podemos através dela modificar a produção desses anticorpos para mais ou para menos.

Nossas reações psicológicas de alegria, carinho, afeto, têm o poder de estimular o psiquismo no sentido de provocar reações positivas e, consequentemente, maior criação de anticorpos circulares no organismo. Não é à toa que muita gente diz: 'alegria e felicidade trazem saúde'.
por Elisandra Vilella G. Sé

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