17 julho 2011

-> Autismo e Nutrição

A Nutrição da Criança Autista - Parte 1

O autismo é um distúrbio neurológico com deterioração progressiva na interação social e na linguagem das pessoas afetadas, apresentando padrões repetitivos de comportamento. Ainda sem causa conhecida, esta desordem apresenta anormalidades no sistema límbico e cerebelar, estruturas importantes no controle motor e emocional do ser humano. Além desta anormalidade, observa-se também, alteração metabólica direcionada para a importância de alguns nutrientes da alimentação do paciente autista. Isto se deve, principalmente, à detecção de elevados níveis de algumas substâncias no sangue dos pacientes, que são: gluteomorfina e caseomorfina, peptídeos derivados da proteína do glúten e da caseína respectivamente. Estes peptídeos apresentam similaridade às substâncias opióides e às suas ações no sistema nervoso central.

Também promovem outros efeitos, tais como: redução do número de células nervosas do sistema nervoso central e inibição de alguns neurotransmissores. De acordo com os dados observados, as substâncias opióides são derivadas de algumas proteínas da alimentação comum, tais como: o glúten e a caseína



Assim a terapia nutricional específica voltada para o paciente autista torna-se um dos primeiros pontos a ser discutido como tratamento. Portanto, com a eliminação padronizada e controlada dos alimentos que promovem a formação das substâncias similares aos opiódes da dieta dos autistas, percebe-se melhora significativa na sociabilidade e comunicação destes pacientes, bem como, uma redução dos efeitos de abstinência destes compostos. Diante de todas as implicações do distúrbio neurológico e metabólico do autista, este tratamento deve ser aplicado de forma interativa e multidisciplinar, sendo a nutrição um importante contribuinte no somatório para melhoria nas características e nos sintomas da desordem autista.

Segundo informações do “Centro de Tratamento Pfeiffer (PTC)”: AUTISM: RESERCH UPDATE (1995), os autistas apresentam, entre outras alterações, um defeito na função da proteína metalotionina que tem como função básica, a detoxificação de metais pesados, anormalidade esta que aparenta ser genética, tornando, o cérebro do autista extremamente sensitivo para metais tóxicos e outras substâncias ambientais. Esta proteína está, também, envolvida diretamente no desenvolvimento e maturação cerebral e do trato gastrintestinal nos primeiros anos de vida do ser humano.

Por outro lado, a função diminuída da proteína metalotionina dificulta também, a entrada de alguns minerais nas células. Entre eles estão o cobre e o zinco que são responsáveis pela maturação intestinal, função imune e crescimento celular.

De fato, algumas das principais evidências observadas no autismo são as anormalidades neurológicas e metabólicas. Diante disso, várias investigações têm sido direcionadas para a função de alguns nutrientes na alimentação do autista, objetivando uma melhora nos sintomas da desordem neurológica, e, tornando o tratamento nutricional um dos primeiros pontos que devem ser observados nas crianças autistas.

PANKSEPP (1979) em um experimento, observou similaridades dos sintomas dos indivíduos com autismo em relação a animais que consumiam experimentalmente opióides, no caso estudado: a morfina.

Em 1988, GILLBERG, detectou elevados níveis de algumas substâncias conhecidas na época por pseudo-endorfinas (substância com atividade opióide) no líquido céfalo-raquidiano de alguns autistas.

E em 1990, SHATTOCK identificou a presença de alguns peptídeos (pequenas cadeias de aminoácidos) anormais na urina de 80% das 1.100 pessoas autistas analisadas. Esses peptídeos são derivados do metabolismo incompleto de certas proteínas. O mesmo autor descreveu que uma parte desses compostos pode ser direcionada ao cérebro, provocando interferências na atividade dos neurotransmissores, devido sua ação neuro-regulatória e possível estimulação pré-sináptica. Os peptídeos anormais detectados foram nomeados de gluteomorfina ou gliadomorfina proveniente do metabolismo do glúten e a caseomorfina proveniente do metabolismo da proteína caseína.

As substâncias inicialmente já identificadas por PANKSEPP (1979) e depois por REICHELT (1981) foram confirmadas por SHATTOCK & LOWDON (1991) que sustentaram a seguinte hipótese: o autismo pode ser uma conseqüência da ação dos peptídeos de origem exógena, a qual afeta diretamente a neurotransmissão do sistema nervoso central dos indivíduos já afetados pelo distúrbio.

KNIVSBERG et al.,(1995) ao analisarem a urina de autistas, também, observaram níveis anormais dos mesmos peptídeos, provenientes de defeitos no metabolismo do glúten e caseína nestes pacientes (15).

Evidências têm mostrado que estes peptídeos, provenientes da quebra de alguns compostos protéicos, apresentam ação similar aos opióides, e, quando intactos podem atravessar a parede do intestino, atingir a corrente sangüínea e chegar ao cérebro em maior quantidade nos indivíduos autistas.

Nos últimos 30 anos, alguns autores têm relatado entre outros problemas uma série de disfunções gastrintestinais nos autistas. HORVATH & PERMAN (2002) descreveram alterações patológicas na permeabilidade intestinal, aumento da resposta secretória à injeção intravenosa de secretina e diminuição da atividade enzimática digestiva, o que demonstra uma conexão relativa entre as ações do cérebro e do intestino.

Entretanto, também existem relatos de doença celíaca e intolerância à lactose associada à síndrome do autista, embora um grupo considerável de indivíduos que apresentam essas desordens neurológicas em concomitância com outras, sejam passíveis de problemas na digestão das proteínas do glúten e da caseína, o que acrescentaria maiores problemas aos indivíduos afetados e maiores complicações na patogênese do autismo.

Diversos outros efeitos são observados quando os peptídeos opióides se elevam na corrente sangüínea, entre eles estão, a alteração do nível de acidez estomacal, alteração da motilidade intestinal e redução do número de células nervosas do sistema nervoso central e conseqüente alteração na neurotransmissão.

O excesso de atividade dos peptídeos opióides no sistema nervoso central também pode resultar em um grande número de interferências neurais por elevadas alterações funcionais de atividade nervosa, o que afeta diretamente a percepção, a emoção, o humor e o comportamento do autista, entre outros sintomas.

Diante das variações neurológicas de cognição e comportamento, as alterações metabólicas e os efeitos nutricionais dos peptídeos opióides nos autistas são significativos, segundo o grupo de REICHELT et al.,(1990) ao publicarem dados em relação a nutrição, demonstraram a efetividade dos programas de nutrição, apesar de alguns trabalhos ainda não serem considerados conclusivos e não estarem tão claros em relação a atividade nutricional para o autista.

No entanto, outros autores também têm considerado que o tratamento nutricional do autista é fundamental, através de embasamentos experimentais ou individuais, obtendo relatos de respostas efetivas. Os estudos de RIMLAND & BAKET (1996) mostraram dados positivos de melhora no tratamento nutricional quando unicamente utilizando a terapia baseada em medicamentos.

Diante das ações terapêuticas nutricionais existentes, o tratamento do autista é complexo e deve ser feito com base em uma série de abordagens clínico-nutricionais, com o objetivo também de detectar possíveis deficiências nutricionais decorrentes ou não da doença. Associado a isso deve ser feito, também, o levantamento semiológico completo da vida do paciente. Enfoques e evidências médicas que possam ser somadas as alterações neurológicas e/ou clínicas (tais como: uso de medicamentos que possam interferir no metabolismo de algum componente da dieta, distúrbios físicos e/ou psíquicos, entre outros), tornam-se importantes no tratamento geral do autista.



A Nutrição da Criança Autista - Parte 2 

De posse de todas informações semiológicas necessárias ao entendimento do distúrbio, é indicado utilizar as seguintes estratégias nutricionais propostas:
Orientações e informações sobre a desordem do autismo e suas implicações na nutrição, inicialmente devem ser direcionadas para os pais e profissionais não-médicos da instituição que, por ventura atenda estes pacientes;
Observar a viabilização do tratamento nutricional na residência dos autistas, sempre respeitando as condições sócio-econômicas de cada família;
O tratamento Nutricional, somente deve ser iniciado, após o conhecimento da complexidade da doença, que, se faz com a retirada controlada dos principais nutrientes que resultam na formação dos opióides, que é um dos principais causadores dos problemas neurológicos de cognição e comportamento do autista.
Assim, sugere-se o seguinte protocolo adaptado e ordenado:

A. Retirada da caseína e de todos os produtos derivados dessa proteína dos alimentos destinados aos autistas, com observação constante do Nutricionista por um período de 3 semanas (tempo experimental de possíveis reações adversas do procedimento);

B. Após o período experimental em relação à restrição da caseína e derivados, inicia-se a retirada do glúten e derivados da alimentação do autista, seguindo o mesmo critério de observação utilizado para caseína, mas agora por um período experimental de 5 meses;

As observações constantes do nutricionista se fazem necessárias com o objetivo de prevenir possíveis quadros de deficiências de vitaminas e minerais que possam ser iniciadas com a retirada dos componentes alimentares conforme descritos e, principalmente, a possibilidade do aparecimento da síndrome de abstinência, ocasionada pelo bloqueio e interferência da ação opióide dos peptídeos no sistema nervoso central, a qual pode não apresentar grande conseqüência nutricional para o paciente. Mas se houver, alguma conseqüência, estas surgirão como alterações psicológicas e psicomotoras significativas, e nesse caso, deverão ser discutidos juntamente com a equipe de tratamento do paciente.

A ação opióide dos peptídeos no sistema nervoso central deve ser um dos fatores mais importantes discutidos no tratamento da criança com autismo, bem como, os efeitos da síndrome de abstinência nestes indivíduos, relacionada à restrição de glúten e caseína, requerem uma atenção intensiva, não só do Nutricionista, mas também, dos outros profissionais que estão vinculados ao tratamento do autista.

Diante de todas as implicações do distúrbio autista associado à Nutrição, o tratamento deve ser sempre aplicado de forma interativa e multidisciplinar, bem como integração dos membros da família do paciente, objetivando, não a cura da doença, mas uma melhora efetiva nas características e sintomas da desordem.
César Augusto Bueno dos Santos
Nutricionista
Prof. Patologia Geral
Coordenador Curso Nutrição – UNIFENAS/BH
 
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Depoimentos: 


Olá! Meu nome é Fátima, e tenho um filho autista de 20 anos. Ele era um menino muito agitado e ansioso, mas depois que fizemos mudanças em sua alimentação, seu comportamento melhorou muito! Ele ficou bem mais calmo, e as mudanças são instantâneas, é incrível! Descobrimos que o glúten e a caseína, após serem retirados da alimentação, provocaram mudanças profundas. Eu não imaginava que as mudanças aconteceriam de forma tão rápida e eficiente, mas acreditem, é verdade!
9 de janeiro de 2010  11:16
Fonte: omundodepeu.blogspot.com/2008/08/nutrio-da-criana-autista-parte-2.html

Sou Celia mãe do João bosco de 19 anos, iniciei a dieta sem caseina, gluten e açucar, há três dias. Aqui em casa estamos em estado de graça pela tranquilidade que está o meu filho João Bosco, além do mais diminuir em 50% os quatro medicamentos que ele toma todos os dias. O meu email é celiaoliveira29@hotmail.com   Data: 27/6/2007 
Fonte: www.autismo-br.com.br/home/dep-com.cgi?tema=Dieta+isenta+de+glutén+e+caseína&codigo=23 

Iniciei a dieta com meu filho (David-4 anos) a aproximadamente 6 meses e já pude perceber algumas mudanças significativas, ele é não verbal, mas após a dieta passou a tentar falar e me olha nos olhos, sorri de volta quando eu sorrio para ele e ficou bem mais calmo, pois ele é hiperativo.
Vera Lucia   veracura@globo.com.br
    Data: 23/5/2004
Fonte: www.autismo-br.com.br/home/dep-com.cgi?tema=Dieta+isenta+de+glutén+e+caseína&codigo=23  


Meu filho faz a dieta sem gluten e sem caseina há dois anos e meio.
É difícil só no começo. Depois a gente se acostuma e adapta os hábitos.
A dieta consiste em retirar o leite e derivados, e o gluten (presente no trigo, aveia, cevada e centeio). Parece o fim do mundo, mas existem substitutos para tudo.
Os produtos para celiacos são sem gluten (macarrão de arroz, pão, pizza, etc).
Tudo feito a base de tapioca, milho e arroz é permitido. (beiju, cuzcuz, bolo de macacheira, etc) Para os laticínios existem bons substitutos da soja (leite ades, soymilke, supra soy, etc). 
Data: 19/6/2006 
Fonte: www.autismo-br.com.br/home/dep-com.cgi?tema=Dieta+isenta+de+glutén+e+caseína&codigo=23  


Pessoal, sou mãe de Samuel, 6 anos, no espectro. Desde os 3 anos de idade resolvi por minha conta e até contra a recomendação da médica (alergologista que fez o teste de alergia, o qual deu positivo para leite e trigo) fazer a dieta. Nessa época, começávamos as investigações sobre o possível transtorno de desenvolvimento em Samuel. Ao ler sobre o autismo e sobre a dieta, resolvi apostar.
Hoje, Samuel, aos 6 anos, lê e escreve (desde os 3 -leitura - e 4 - escrita), e tem um vocabulário imenso, que só precisa ser trabalhado para que sirva de comunicação efetiva - suas conversações têm ciclos curtos. É calmo - às vezes tem birras - e amoroso. Acompanha o ensino regular, embora precise de acompanhamento terapêutico. Enfim, creio estar ótimo para o que poderia ser e isso é consenso entre os profissionais que o acompanham.
Credito isso, dentre outros fatores, à dieta, e por isso incentivo todos a fazerem. Não é assim tão difícil: leite de soja existe às pencas no mercado, pães e massas são facilmente substituíveis por outras fontes de amido. Samuel adora inhame, macaxeira, batata doce e frutas. As verduras são incluídas no arroz (integral, de preferência) e na sopa (sagrada) e ele também já pede salada (tomate, pepino).
Acreditem e façam.  Abçs.  Izabel    9/6/2010   
Fonte: www.autismo-br.com.br/home/dep-com.cgi?tema=Dieta+isenta+de+glutén+e+caseína&codigo=23  
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Vídeos: 
 
- Nutricionista Priscila Spiandorello fala sobre autismo e Nutrição:  www.canaldoautismo.com.br/autismo-infantil/nutricionista-priscila-spiandorello-fala-sobre-autismo-  e-nutricao-video_0916f50c4.html 

 
- O Que é tratamento Biomédico? O Dr. Rogério responde: www.canaldoautismo.com.br/autismo-infantil/o-que-e-tratamento-biomedico-o-dr-rogerio-responde-video_8996aa1ac.html 
 
- Dra. Georgia Fonseca fala sobre autismo e homeopatia: www.canaldoautismo.com.br/autismo-infantil/dra-georgia-fonseca-fala-sobre-autismo-e-homeopatia-video_03018f502.html  
 
- Dra. Simone Pires fala sobre o tratamento biomédico no Brasil: www.canaldoautismo.com.br/autismo-infantil/dra-simone-pires-fala-sobre-o-tratamento-biomedico-no-brasil-video_c7387a054.html  
 
- Dra. Georgia Fonseca fala sobre dieta sem glúten e sem caseina: www.canaldoautismo.com.br/dra-georgia-fonseca/dra-georgia-fonseca-dieta-sem-gluten-e-sem-caseina-video_865d48459.html 
 
Dra. Georgia Regina Fonseca
Av. das Américas, 1155 - Barra -Rio de Janeiro-RJ  Tel.: (21) 2491-3785  
Ou  Av. Santa Cruz, 2016 - Realengo - Rio de Janeiro-RJ Tel.: (21) 3332-4165

Um comentário:

  1. Vejam o blog do Prof. Cesar que trabalha com autismo infantil. O blog é de muitas doenças e tem o trabalho de autismo
    patologiaprofcesarbueno.blogspot.com.br

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